Antonio Rebouças e André Rebouças. (Imagem: Gazeta do Povo)
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Se hoje a cidade de Curitiba é a capital do estado do Paraná, tal fato se deve
ao empenho e à perseverança de dois irmãos nascidos na Bahia, ambos engenheiros: Antonio e André Rebouças.
Os irmãos são considerados os primeiros afrodescendentes brasileiros a cursar uma universidade e
os dois maiores engenheiros do Brasil no século XIX. O caminho profissional
traçado por eles parece ter vindo de uma inspiração familiar. O pai deles,
Antonio Pereira Rebouças, era filho de uma escrava alforriada e de um alfaiate
português e foi um dos poucos advogados negros a ocupar um cargo relevante no
período do Brasil Imperial. Atuou também como conselheiro de Dom Pedro II.
Em razão do fato de serem negros, eles sempre enfrentaram percalços de natureza burocrática ou preconceituosa.
Obras
Após concluírem a trajetória acadêmica na Europa, os irmãos se especializaram na construção de estradas. Ao desembarcar no Paraná, assumiram parte da responsabilidade de transformar uma província ainda em construção. Em 1864, uma década depois da Emancipação de São Paulo, iniciaram sua trajetória na região. O chafariz na Praça Zacarias, em Curitiba, a Estrada da Graciosa, a Ferrovia Paranaguá-Curitiba (considerada a maior obra da engenharia férrea nacional) e o Parque Nacional do Iguaçu são alguns dos legados dos engenheiros.
O jornalista e pesquisador Jorge Narozniak, no livro Histórias do Paraná
(2010), escreveu que a primeira missão dos Rebouças foi comandar a construção
da Estrada da Graciosa, que desde
1854 estava sendo idealizada para ligar o planalto ao Litoral Paranaense. Em
1864, Antônio foi nomeado engenheiro-chefe da Estrada e formulou o projeto do
empreendimento.
A construção da estação ferroviária em Curitiba alavancou o desenvolvimento da cidade, que, até meados dos anos 80 do século XIX, não ia muito além da Rua Marechal Deodoro, então conhecida como Rua do Imperador. A nova estação, que teve a localização sugerida pela Câmara de Vereadores, fez surgir a Rua da Liberdade, posteriormente batizada como Barão do Rio Branco, cuja importância econômica só rivalizava com a Rua do Mato Grosso, atual Comendador Araújo.
A presença de dois prédios públicos na Rua da Liberdade (Palácio da Liberdade,
sede do executivo estadual, e Palácio do Congresso, sede do Legislativo)
emprestou à rua uma importância que se consolidaria com a inauguração, em 1912,
do prédio do Paço na Praça Municipal
(hoje Generoso Marques).
A região localizada atrás da Estação Ferroviária ganhou contornos industriais
com a instalação de fábricas
diversas. A presença de extensas vias ligando esta região à parte sul da cidade
fez com que ela também ganhasse importância estratégica.
Rio de Janeiro
André realizou no Rio de Janeiro várias obras que lhe conferiram projeção como engenheiro civil, a exemplo do plano de abastecimento de água para a cidade, durante a seca de 1870, a construção das docas da Alfândega e das docas D. Pedro II. Permaneceu nessa atividade de 1866 até novembro de 1871, quando inesperadamente se demitiu.
Após a morte do irmão Antônio em 1874, muito abalado, resolveu tomar parte de
sociedades empenhadas na luta contra o
trabalho escravo no país. Engajado na campanha abolicionista, ao lado de
Machado de Assis e Olavo Bilac, foi um dos representantes da classe média
brasileira com ascendência africana e uma
das vozes mais importantes em prol da abolição.
Participou da fundação de algumas dessas sociedades, tais
como a Sociedade Brasileira Contra a
Escravidão e a Sociedade Abolicionista, criadas juntamente com seus alunos
da Escola politécnica. No ano de 1883, após viagem aos Estados Unidos e Europa
retorna resolvido a dar continuidade às campanhas contra a escravidão no
Brasil, já animadas pelas manifestações de rua e pelos debates parlamentares.
A abolição assinada pela Princesa Isabel acirrou os ânimos
dos grandes proprietários de terras, culminando com o movimento militar de 15
de novembro de 1889 e a proclamação da República. Fiel ao Imperador D. Pedro II
e ao regime monárquico, André embarcou juntamente com a família imperial no
paquete Alagoas com destino ao exílio na
Europa.
Inicialmente, André permaneceu em Lisboa, com intensa
atividade como jornalista
correspondente do “The Times” de Londres. Porém logo transferiu-se para Cannes,
na França, onde ficou até a morte de D. Pedro II.
Financeiramente arruinado, aceitou emprego em Luanda, na
África, por pouco tempo, mudando-se posteriormente para Funchal, na Ilha da
Madeira, em meados de 1893. André jamais retornaria à Europa ou à sua terra natal. Seu precário estado de
saúde e intenso abatimento pelo exílio cercou de mistério sua morte, aos 60
anos.
Você sabia?
- O Túnel Rebouças, no Rio de
Janeiro, leva este nome em homenagem aos irmãos. Próximo à entrada do local, na
Praça José Mariano Filho, foram construídos bustos para lembrar a contribuição
dos Rebouças.
- A administração pública de Curitiba homenageou os irmãos Rebouças batizando não só uma das ruas dessa região com o nome de Engenheiros Rebouças, mas toda a região. Hoje, o bairro Rebouças é uma das localidades mais valorizadas de Curitiba e sua importância histórica é inegável para o entendimento da dinâmica da cidade.
- Cada passo para a consolidação de Curitiba apresentou seu grau de
dificuldade, mas iniciativas de engenheiros como os irmãos Rebouças foram
imprescindíveis. O nome dos Rebouças sintetiza o espírito empreendedor e ousado.
- Em São Paulo existe a Av.
Engenheiros Rebouças.
Fontes:
- Especial
Consciência Negra – Irmãos Rebouças, publicado pela Universidade
Corporativa do Transporte (UCT).
- Saga
dos Engenheiros Rebouças, publicado por Marcos Nogueira.
- Irmãos
Rebouças: os incríveis primeiros engenheiros negros do Brasil, publicado
por Sam Shiraishi.
- Irmãos
Rebouças: os engenheiros que fizeram história em Curitiba, publicado pela
Câmara Municipal de Curitiba.
- O
Paraná segundo os Rebouças, publicado pela Gazeta do Povo.