Brasil precisa de engenheiros — e o problema está longe de uma solução



Brasil precisa de engenheiros — e o problema está longe de uma solução

Faltam profissionais no Brasil. A oferta de vagas supera a quantidade de especialistas disponíveis. Relatório estima que haverá um déficit de 530 mil engenheiros no País no período que compreende os próximos dois anos



A falta de profissionais qualificados na área de engenharia no Brasil está se tornando um problema cada vez mais grave. Enquanto a demanda por profissionais capacitados cresce, a formação acadêmica não acompanha o mesmo ritmo, resultando em um desequilíbrio preocupante. Essa situação reflete as dificuldades enfrentadas desde o ensino básico até a evasão nas faculdades. Segundo o diretor do Google for Startups para a América Latina, André Barrence, que participou da pesquisa realizada em conjunto com a consultoria BOX1824, a escassez de talentos na área de tecnologia é enorme.


Apesar de haver milhares de vagas disponíveis, a quantidade de profissionais qualificados é insuficiente para atender à demanda. Esse problema, segundo Barrence, vai além da simples habilidade em tecnologia na graduação, sendo reflexo de uma falha na formação educacional do País.


Marcello Nitz, pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia, acredita que um dos fatores que contribuem para a falta de profissionais na área é a possibilidade de os engenheiros exercerem atividades em outros setores, como a área financeira e de gestão.


Em períodos de recessão, quando há redução de oportunidades nas empresas, muitos engenheiros passam a se dedicar a outras atividades. Porém, quando o crescimento econômico retorna, há uma súbita demanda por esses profissionais em grande quantidade e qualidade, criando um desequilíbrio entre oferta e demanda na área”, explica.




Defasagem


De acordo com a pesquisa, entre 2021 e 2025, cerca de 53 mil engenheiros serão formados anualmente no Brasil, totalizando aproximadamente 265 mil profissionais no período.


Entretanto, o relatório alerta que o mercado nacional terá posições abertas para 800 mil talentos nesses mesmos anos, gerando um déficit de pelo menos 530 mil profissionais.


Essa defasagem compromete não apenas a capacidade de inovação e avanço tecnológico, mas também a competitividade do Brasil em um cenário global cada vez mais exigente. “É necessário que os cursos de engenharia possam formar o número de profissionais que o mercado precisa”, avalia Abel Fidalgo Alves, professor de engenharia elétrica da Universidade Estadual de Maringá.


Para reverter a situação, é essencial um esforço conjunto entre governo, instituições de ensino e empresas. “As empresas também têm a sua parcela de culpa. O salário inicial é considerado baixo pelos recém-formados”, completa Abel.


A promoção de políticas públicas que incentivem o interesse pela engenharia desde o ensino básico, garantindo uma formação sólida e atrativa para os jovens, se faz necessária para aumentar a disposição dos mesmos. “A tecnologia pode ser usada para conectar profissionais experientes com estudantes, criando oportunidades de aprendizado contínuo”, analisa Marcos Sarge, engenheiro e sócio diretor da Tallento Construtora.


O déficit de profissionais da área tecnológica vem se mostrando uma tendência preocupante há alguns anos.


Não só nas engenharias, mas na agronomia e nas geociências também, que compõem o que especialistas chamam de área tecnológica.


Em 2020, o instituto McKinsey soltou uma pesquisa alertando que até 2030 será preciso cerca de um milhão de profissionais de tecnologia no Brasil.


Bem antes disso, em 2018, o Instituto de Engenharia já buscava entender o que provocava esse cenário em um levantamento com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), feito com base nos dados do Ministério da Educação (MEC), e concluiu que mais da metade dos estudantes de engenharia abandonava o curso antes da formatura.



Sinal amarelo


O Brasil está entre os países com maior escassez de mão de obra, sendo que esse problema atingiu seu nível mais alto nos últimos anos, especialmente com os impactos causados pela pandemia.


Para o engenheiro Mamede Abou Dehn Júnior, vice-presidente no exercício da Presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), é preciso, cada vez mais, fomentar políticas públicas que facilitem a formação e capacitação de futuros engenheiros, agrônomos e geocientistas.


Nosso País tem potencial de competir e de trabalhar junto às grandes nações de tecnologia. Temos um vasto talento para isso e total capacidade de construir um futuro justo em oportunidades. É preciso definir e implementar ações para estimular o interesse e a formação em engenharia, garantindo um suprimento adequado de profissionais qualificados e impulsionando o desenvolvimento do País”, explica.


(Imagem: Istoé/Reprodução)



Fonte:

- Istoé.



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