(Foto: AECWeb/Reprodução)
A linha mestra para projetos de interiores de apartamentos
compactos é buscar a integração dos ambientes. “Quanto menos barreiras e divisórias, maior a amplitude visual, além
de tornar o apartamento um espaço multifuncional”, diz o arquiteto Joé
Guilherme Carceles, sócio-fundador do escritório Casa 100 Arquitetura.
Para o Arquiteto Douglas Tolaine, do escritório
Perkins+Will, em São Paulo, o projeto de interiores deve ser pensado para
otimizar e potencializar ao máximo o espaço, valorizando cada centímetro. Por
isso, precisa ser flexível e usar com criatividade o essencial. “Em compactos, devemos abolir soluções estáticas que
tenham apenas uma função e pouco potencial de uso”, diz.
Melhores resultados são obtidos quando o projeto de Arquitetura
das unidades se antecipa, prevendo a relação do volume com as possiblidades de
integração dos espaços. “O ideal é que o autor do projeto
pense no ambiente como um todo, e não em espaços confinados”, observa Carceles.
É o caso da bancada que segue da cozinha para a lavanderia, e se estende com a
função de apoio para a sala de TV.
Mezanino
Apesar de menos frequentes no mercado, os apartamentos com
pé-direito duplo ou, pelo menos, alto o suficiente para ter o dormitório no mezanino é solução
arquitetônica interessante. “Principalmente quando os moradores preferem ter o
ambiente do quarto mais reservado. O mezanino sobreposto ao térreo libera mais espaço para as demais
funções”, lembra Carceles.
Entre os trabalhos realizados pela Casa 100 está o
apartamento no Campo Belo, de 45 m², pé-direito duplo com mezanino e banheiro
incorporados ao projeto da construtora, num total de 15 m² destinados ao
dormitório. “O mezanino pode acomodar o
quarto ou outro ambiente. E, dependendo de como foi instalado o sistema
hidráulico, é possível construir um banheiro, deixando o lavabo no térreo”,
diz.
Autor do projeto de Arquitetura
do empreendimento ‘You, Perdizes’, Tolaine conta que a configuração de parte
das unidades é de studio, com pé-direito de 3,75 m – o que permite uma flexibilidade de layout e utilização do
mezanino como dormitório, que o proprietário pode construir com estrutura
metálica.
“Pensamos em criar um espaço com sensação de amplitude, por
isso, o pé-direito alto se apresentou como uma boa solução. O resultado foi um apartamento que parece maior, graças
a soluções inspiradas na Arquitetura e Engenharia
Naval”, destaca Tolaine, contando que foi necessário valorizar e potencializar
os centímetros e, portanto, pensar no volume, no metro cúbico e não no metro
quadrado.
Varandas
As varandas, que nos últimos anos se tornaram protagonistas
em apartamentos de maior metragem, alcançaram também os empreendimentos de
unidades compactas. Para o arquiteto da Perkins+Will, essa área responde a um
crescente movimento cultural de resgate
e conexão com ambientes externos, paisagem, vistas e luz natural.
“O ambiente mais flexível e plural de um apartamento é a
varanda, que permite a utilização de todo o seu potencial, já que não tem um
uso tão claramente definido”, diz ele, indicando que, nesse ambiente, os caixilhos podem ir do teto ao piso,
deixando a planta livre, sem pilares e paredes.
Segundo Carceles, as generosas áreas dos terraços vêm sendo
muito bem aproveitadas em funções variadas. “Arquitetos e moradores têm optado
por sua integração à sala, o que pede o fechamento externo do espaço com vidro
e nivelamento do piso. Na maioria dos casos, as portas são retiradas, exceto quando a construtora não permite”,
conta.
Há até mesmo quem prefira levar a cozinha completa para a varanda, liberando área para a
sala. Ou, ainda, que queira manter a varanda como área de lazer, inclusive
prevendo a utilização da churrasqueira. “Nesse caso, as portas são mantidas,
para evitar que a sala seja invadida pela fumaça”, diz.
A varanda é, também, o local onde a vegetação é bem-vinda. Quando transformada em cozinha ou
mesmo em área de lazer, a área pede uma horta, que pode ser vertical. Ou,
apenas folhagem que humaniza o ambiente. “Nos terraços que não dispõem de ponto
de água para irrigação, já é possível ter uma parede verde com o uso de plantas preservadas. São espécies
naturais tratadas com elementos químicos, que dispensam água, ar e luz”,
explica Carceles.
Iluminação
A iluminação é essencial nesse tipo de apartamento. “O ambiente compacto deve ser mais claro,
uma vez que a iluminação ajuda a criar sensação de amplitude”, defende Tolaine.
A preferência do escritório Casa 100 nos projetos de
iluminação artificial na sala é por um mix
de luminárias – de piso, arandelas e abajures –, evitando as de teto.
“Procuramos uma composição que torne o ambiente agradável, sem o excesso de luz
central. Mas, para o cliente que gosta, incluímos a dimerização, pois assim
poderá dosar o quanto deseja de claridade”, comenta Carceles, contando que já
utilizou luminárias centrais suportadas por tubulação aparente de aço
galvanizado no teto
de concreto.
Hidráulica
Tolaine concentrou as
instalações hidráulicas do ‘You, Perdizes’ em uma área específica – o que reduz a necessidade de um forro e
mantém o pé-direito com altura diferenciada na maior parte da unidade.
Segundo Carceles, não há diferença entre as louças e metais
sanitários que escolhe para projetos de interiores de apartamentos maiores e
para os compactos. O que muda, muitas vezes, é o tamanho das cubas, menores. Mas, se o morador quiser uma banheira,
terá que abrir mão de algum outro elemento no banheiro. “Nunca inserimos uma banheira nos projetos realizados”, comenta.
Portas
e Janelas
A substituição de
portas de abrir pelo tipo de correr, principalmente do banheiro, é recurso
interessante quando se trata de apartamento de pouca metragem. “As portas de
abrir restringem a circulação. Ganhamos espaço quando trocamos pelas de
correr”, ressalta Carceles. Ele conta que já adotou porta vai-e-vem veneziana,
branca e discreta, entre a cozinha e a lavanderia, o que deu um ar de casa para
o apartamento.
Para preservar a privacidade do morador que, por exemplo,
tem um escritório em casa, mas também deseja amplitude, uma boa escolha são os
elementos móveis, como painéis de correr
ou persianas. “Fechar com paredes, nem mesmo de drywall. Em apartamentos
pequenos, é comum derrubamos paredes”, diz Carceles.
O cobogó é um
material coringa, tanto de concreto como de cerâmica, em qualquer ambiente do
imóvel, da cozinha à sala e lavanderia. Para o Arquiteto, o cobogó empresta
exclusividade ao ambiente, é bonito e cumpre
a função de divisória sem ser um elemento pesado. Vazado, permite a
passagem de luz e ventilação.
Pintura
e Revestimento
Regra básica diz que ambientes pequenos pedem cores claras, de preferência paredes
brancas, na busca de amplitude. Carceles se mantém fiel ao princípio, porém,
acrescentando cor ou painel de madeira
em alguma parede – em geral, freijó ou carvalho –, o que personaliza o
ambiente. “Mas já fizemos um apartamento de 30 m² com paredes em cimento
queimado e uma delas de lousa preta. Ficou ótimo”, diz.
Ele descarta o uso de qualquer tipo de material que simula
a aparência do original, como os papéis
de parede padrão tijolinho à vista ou revestimento cerâmico que imita madeira.
“A aparência até pode ser similar, mas no toque a sensação revela que não é o
material verdadeiro. Portanto, evitamos produtos que copiam outros”, conta.
Armazenagem
Sem perder espaço útil e, ao mesmo tempo, assegurando que o
compacto tenha boas áreas de armazenagem, a solução recorrente nos projetos da
Casa 100 é prender, no teto, estruturas
metálicas que contenham prateleiras, armários ou nichos. Elas atendem as
necessidades da cozinha, sala e área de dormitório, funcionando, inclusive,
como divisória de ambientes.
Fonte:
- AECweb