(Foto: Saval/Reprodução)
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Nos últimos anos a tecnologia Water Mist tem amadurecido e hoje é amplamente considerada como uma solução de proteção contra incêndios devido a grande demanda do mercado por tecnologias inovadoras, maleáveis e que geram economia de recursos.
A ideia do Water Mist não é exatamente nova. 130 anos atrás, uma empresa americana chamada F.E. MYERS produziu um sistema de uma mochila que gerava pequenas gotas de água para apagar pequenos incêndios florestais.
Somente 10 anos depois a Grinnell desenvolveu o difusor “pepper pot” que combatia o fogo usando também pequenas gotas de água. Em 1930 já haviam várias companhias que se envolveram no desenvolvimento de aplicações de Water Mist ou water fog. Dentre elas estava a empresa Lechler que como inovação tinha um difusor com orifícios múltiplos que naquela época (1930) chamavam de difusor de poeira de água.
Em 1940 a divisão de engenharia Factory Mutual (FM) iniciou seus primeiros testes utilizando difusores de pequenas gotas. Mesmo com todos esses esforços, a tecnologia não decolou, ficando sem grande visibilidade em aplicação para sistemas fixos de combate a incêndio.
Foi somente nos anos 90 que o Water Mist começou a se tornar significativo no mercado, isso se deu devido a dois incidentes.
O primeiro incidente foi a execução do Protocolo de Montreal, que condena substâncias que agridem a camada de ozônio. O segundo foi um incêndio no navio balso “Scandinavian Star”, em 7 de abril de 1990. Durante esse incêndio, 159 pessoas morreram.
Até o Protocolo de Montreal, os sistemas baseados no gás Halon iam bem. Porém, com sua eliminação progressiva, os sistemas de water mist viraram um importante caso de estudo, pesquisa e desenvolvimento.
O sistema de Water Mist é aplicado em locais onde há testes de grandes escalas de acordo com o estabelecido pelo fabricante, tendo a certificação e pode ser uma alternativa para a proteção em ambientes fechados ou semi abertos, de área limitada para não danificar os equipamentos à serem protegidos, em substituição aos sprinklers.
Muito já havia sido desenvolvido sobre Water Mist em alta pressão na Suécia entre 1975 e 1990. Os principais objetivos eram proteger hotéis e cabines de passageiros, assim como desenvolver pesquisas sobre riscos de líquidos inflamáveis.
Tendo o incêndio do Scandinavian Star como cenário da época (1990), os primeiros sistemas de Water Mist foram instalados e as primeiras empresas fabricantes de sistemas de Water Mist em alta pressão nasceram, dentre elas a Marioff, sendo seguidas por várias depois.
A tecnologia veio se desenvolvendo nos últimos 29 anos e migrou dos Navios e transatlânticos para a parte terrestre.
Como os sistemas de Water Mist realmente trabalham?
Os grandes questionamentos sobre a tecnologia hoje são basicamente: Como funciona? O quanto é efetivo? Quanto custa? Quais as normas que regem esse sistema?
A tecnologia de Água Micropulverizada (Water Mist) suprime e extingue o incêndio descarregando uma fina névoa de água em alta velocidade por bombas ou acumuladores de alta pressão.
Três princípios de extinção são empregados no sistema: emulsificação, resfriamento e abafamento.
Esclarecendo ainda mais, este sistema combate o incêndio utilizando três mecanismos principais: arrefecimento do fogo em si e ao ar ao seu redor, bloqueio do calor radiante e deslocamento do oxigênio a partir da base do fogo. Ou seja, diferente dos sistemas de sprinklers convencionais, o Water Mist retira dois componentes do triângulo do fogo, oxigênio e calor (sprinklers tradicionais somente retiram o calor).
Existem sistemas que trabalham com baixa, média e alta pressão e, quanto maior a pressão, maiores são as gotas que permitem a cobertura de uma superfície maior e mais água vira vapor. Ou seja, há uma eficiência melhor na extinção do fogo, reduzindo mais rápido a temperatura do ambiente ,assim como o oxigênio próximo à chama, resfriando o ambiente e prevenindo re-ignições.
Os sistemas de baixa pressão trabalham com menos de 12.5 bar. Os sistemas de média trabalham entre 12.5 e 35 bar e sistemas com alta pressão podem chegar a pressões de trabalho de até 120 bar. Cada um desses sistemas tem sua elegibilidade, o de baixa pressão pode ser adequado para propósitos diferentes do de média pressão ou de alta pressão e vice-versa.
Como menos água é utilizada em relação aos sprinklers convencionais o, custo-benefício se torna melhor e a tecnologia é amistosa ao ambiente, pois não agride a camada de ozônio, não contribui para o aquecimento global, não provoca danos causados por água, não fere pessoas e é extremamente confiável.
Os sistemas que utilizam a tecnologia Water Mist devem seguir a Norma Internacional NFPA 750 e as orientações (Guidelines) FM 5560 e CEN 1497-2, que apontam as seguintes regras:
NFPA 750
“Esta norma contém os requisitos mínimos para o projeto, instalação, manutenção e testes de sistemas de proteção contra incêndios com Water Mist.
Esta norma não proporciona critérios definitivos sobre eficácia frente ao fogo nem oferece um guia específico sobre como projetar um sistema para controlar, suprimir ou extinguir um incêndio. A confiabilidade se obtém mediante a obtenção e instalação de sistemas que tenham demonstrado sua eficácia em ensaios de incêndio como parte do processo listado. ”
CEN 1497-2
“Este documento especifica requerimentos e fornece informação para projeto, instalação e testes e fornece critérios para aceite de sistemas terrestres baseados na tecnologia Water Mist para riscos específicos e provêm protocolos de teste de fogo para uma grande variedade de grupos de riscos.
Na falta de um método de projeto geral, é o intento deste documento que os sistemas de Water Mist sejam testados com fogo real em escala total e a avaliação de seus componentes seja realizada por laboratórios de testes qualificados.”
Concluindo, todos os sistemas que utilizam a tecnologia Water Mist devem possuir testes de performance para os riscos que se propõem a extinguir, controlar ou suprimir, que comprovem sua eficiência.
Confira mais detalhes no vídeo abaixo:
Water Mist no Brasil
A tecnologia vem sendo divulgada no Brasil nos últimos cinco anos e vem sendo implantada em projetos onde o cliente já utiliza a tecnologia em seus sites no exterior e mantém o mesmo padrão mundialmente.
No Brasil não existe uma norma nacional. O conhecimento e o reconhecimento da tecnologia por todos é muito escasso e quando o conhecimento sobre um assunto é escasso ou pouco divulgado, alguns ruídos ou enganos são realizados. A tecnologia, a sociedade e o cliente pagam o preço final.
A tecnologia no Brasil vem tendo destaque também no ambiente industrial terrestre mesmo sendo proveniente da área marítima. Hoje existem diversas aplicações aprovadas FM e VDS instaladas no Brasil, desde Datacenters, subestações urbanas e cabines de pinturas, com um alto índice de aprovação por conta dos clientes.
O que temos encontrado é que, pela falta de conhecimento do mercado sobre a tecnologia, pelo fato de não termos uma norma nacional e somente a tecnologia estar sendo mencionada na IT-37 (Subestações) do Corpo de Bombeiros, o mercado que procura por novas formas de extinguir e combater incêndios irá começar a sofrer com materiais que não seguem as normas internacionais e não possuem os testes de performance mencionados na NFPA 750, listado por um laboratório que siga no mínimo guidelines internacionais já desenvolvidas.
Todo fabricante de sistemas com tecnologia Water Mist deve munir o cliente final e/ou Corpo de Bombeiros e/ou seguradora com a documentação correta, comprovando a eficácia e eficiência do seu sistema, visando assim sua aprovação, assim como é solicitado na NFPA 750 antes do fornecimento do mesmo.
Sistemas de Water Mist podem ser utilizados como uma medida de segurança contra incêndio em edificações que possuam riscos leves e ordinários em opção ao sistema de sprinklers quando estes forem exigidos ou quando forem utilizados em substituição ao sistema de compartimentação, como medida de segurança contra incêndio exigido pela norma do Corpo de Bombeiros, desde de que existam testes de performance ou aprovações internacionais para estes cenários.
Os grandes competidores da tecnologia são os sprinklers tradicionais e sistemas que utilizam gás ou pó para controlar ou extinguir incêndios. O Water Mist sempre será uma alternativa a ser estudada.
Existirão casos em que o sprinkler ou sistemas que utilizam gás serão as melhores opções. Mas, em alguns casos, o melhor cenário fica com a famosa névoa de água. Um bom exemplo são as edificações já existentes que, devido às características, vantagens e benefícios já mencionados fazem a diferença.
Veja abaixo alguns cenários de riscos leves e ordinários onde o Water Mist pode ser utilizado como opção ao chuveiro automático (sprinkler) e hidrantes convencionais em edificações existentes:
• Edificações residenciais – Grupo A
• Serviços e Hospedagem - Hoteis - Grupo B
• Edificações comerciais - Grupo C
• Edificação de serviços profissionais – Grupo D
• Escolas – Grupo E
• Estações de metrô, trem, bibliotecas, museus – Grupo F
• Serviços Automotivos e similares – Garagens e Hangares – Grupo G • Serviço de saúde e institucional – Hospitais, Presídios, clínicas, quartel – Grupo H
• Edificações Industriais – Grupo I
• Túneis – Grupo M
Além de aplicações em Aeroportos, Indústria e Energia, Data Centers e Museus
Uma novidade para os Engenheiros e Arquitetos do Brasil é que o curso de Pós-Graduação em Engenharia Contra incêndio e Emergência do INBEC terá pela primeira vez em um Curso de Especialização um módulo específico de “Sistema de controle e supressão de incêndio por Water Mist, Water Spray e Híbrido’’.
Sem dúvidas, esses sistemas são de grande importância para a sociedade, onde teremos mais uma tecnologia eficaz em favor da segurança da vida e patrimonial, contribuído para a dinamização do mercado das soluções de Engenharia de incêndio no Brasil, qualificando adequadamente essa geração e a próxima de profissionais Especialistas em Proteção Contra incêndio.
Por Engº Deivison Guerreiro e Engº Thiago Cardoso.