Em 3 anos, Brasil perdeu quase um estado do RJ de vegetação nativa



Em 3 anos, Brasil perdeu quase um estado do RJ de vegetação nativa
Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. Foto: © Victor Moriyama | Amazônia em Chamas / Ciclo Vivo - Reprodução.




Relatório do MapBiomas revela que desmatamento chegou a 42 mil km² nos últimos 3 anos e cresceu 20% em 2021



Em três anos, o desmatamento no Brasil devastou uma área de 42 mil km², território equivalente ao do estado do Rio de Janeiro. Os dados são do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, divulgado no dia 18 de julho de 2022.


De acordo com o relatório, apenas em 2021, a perda de vegetação ultrapassou 16,5 mil km², um aumento de 20% em relação ao total observado no ano anterior, com crescimento em todos os biomas.


Também aumentou a velocidade média de desmatamento no país, que passou de 0,16 hectares/dia para cada evento de desmatamento detectado e validado em 2020 para 0,18 hectares/dia em 2021. Com uma média diária de 191 novos eventos, a área de desmatamento por dia em 2021 foi de 4.536 hectares, ou 189 hectares por hora. Somente na Amazônia foram 111,6 hectares desmatados por hora ou 1,9 hectare por minuto, o que equivale a cerca de 18 árvores por segundo.



Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) / Ciclo Vivo - Reprodução.




O estudo, que refinou e validou 69.796 alertas de desmatamento em 2021 em todo o território nacional, avaliou individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e cadastro ambiental rural (CAR) e encontrou indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos. Apenas em 1,34% dos alertas (que correspondem a 0,87% do total desmatado) não foram encontrados indícios ou evidências de irregularidades. Esse percentual de irregularidade está em linha com os 99% detectados nos relatórios anteriores (2019 e 2020).


Este relatório é o terceiro de uma série que tem a finalidade de consolidar e analisar as informações sobre todos os desmatamentos detectados nos seis biomas brasileiros, pelos múltiplos sistemas de alertas disponíveis, e que foram validados, refinados e publicados pelo projeto MapBiomas Alerta.



Identificação dos responsáveis


Os alertas de desmatamento que cruzam com imóveis rurais cadastrados no CAR correspondem a 77% da área total desmatada. Isso significa que em pelo menos 3/4 dos desmatamentos é possível encontrar um responsável. Foram 59.181 imóveis com desmatamento detectado no país em 2021, que representam 0,9% dos imóveis rurais cadastrados no CAR até 2021.


São reincidentes por terem desmatamento registrado em 2019 e/ou 2020 19.953 imóveis registrados no CAR. Quando considerado o período de 2019 a 2021 o número de imóveis com pelo menos um evento de desmatamento detectado sobe para 134.318, o que representa 2,1% dos imóveis rurais brasileiros.


“Para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade: o risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.



Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) / Ciclo Vivo - Reprodução.




Para isso, é preciso atuar em três frentes, assegurando que: todo desmatamento seja detectado e reportado; todo desmatamento ilegal receba ação de responsabilização e punição dos infratores (ex. autuações, embargo); o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente e receba algum tipo de penalização (ex. restrições de crédito, pendência do CAR, impedimento de regularização fundiária, exclusão de cadeias produtivas)”, aponta Tasso.


Entre as áreas que registraram maior desmatamento, o destaque está nas propriedades privadas, que concentraram 69,5% do total, seguidas pelas glebas públicas com 10,6% (sendo 9,3% em terras públicas não destinadas), Unidades de Conservação com 3,6% e Terras Indígenas com 1,7%.



Divisa entre o Território Indígena do Xingu e o entorno mostra o contraste entre a floresta e a plantação. Foto: Manoela Meyer | ISA / Ciclo Vivo - Reprodução.




Em todo o Brasil, as áreas desmatadas com menos de 25 ha representam 82,8% do total de alertas, mas somente 22,8% da área total desmatada. Já os alertas com mais de 100 ha representam 4,4% dos alertas, mas representam 51,7% do total desmatado no país. Nessa categoria houve um aumento de 37,8% entre 2020 e 2021.


A análise das ações realizadas pelos órgãos de controle ambiental para conter o desmatamento ilegal apontam que os embargos e autuações realizados pelo IBAMA e ICMBio até maio de 2022 atingiram apenas 2,4% dos desmatamentos e 10,5% da área desmatada identificada entre 2019 e 2021. Nos 52 municípios definidos como prioritários pelo Ministério do Meio Ambiente para o combate ao desmatamento na Amazônia, este índice é um pouco melhor: 4,4% do total de alertas e 21,2% da área desmatada.


Com base nos dados disponíveis, quando somadas as ações realizadas pelos órgãos federais e estaduais, incluindo Ministérios Públicos, o número de alertas de desmatamento detectados entre 2019 e 2021 com ações de fiscalização sobe para 15.980, o que representa 7,7% do total e 27,1% da área desmatada (1,169 milhão de hectares).



Vetores de pressão do desmatamento


Uma novidade na edição deste ano é a identificação dos vetores de pressão do desmatamento, como agropecuária, garimpo, mineração, expansão urbana e outros, como pressão por construção de usinas eólicas e solares, principalmente na região Nordeste.


Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) / Ciclo Vivo - Reprodução.



Os números mostram a prevalência e a estabilidade no nível de pressão da agropecuária nos últimos três anos, quando a atividade foi responsável por percentuais de desmatamento acima de 97%. Nesse cenário, o estado do Pará diferencia-se em algumas áreas onde o garimpo foi um expressivo vetor de pressão. Em áreas próximas às capitais e grandes centros urbanos, a pressão ficou por conta da expansão urbana.



Biomas brasileiros


Juntos, Amazônia e Cerrado representaram 89,2% da área desmatada detectada em 2021. Quando somada a Caatinga, os três biomas responderam por 96,2% das perdas.


A Amazônia concentra a maior perda de vegetação nativa do Brasil nos últimos três anos: o bioma concentrou 59% da área desmatada e 66,8% dos alertas de desmatamento em 2021. Foram mais de 977 mil hectares de vegetação nativa destruídos no ano passado – um crescimento de quase 15% em relação aos 851 mil hectares desmatados em 2020 que, por sua vez, já haviam representado um aumento de 10% em relação aos 771 mil hectares de desmate em 2019.


Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) / Ciclo Vivo - Reprodução.




Em segundo lugar, vem o Cerrado, com pouco mais de meio milhão de hectares (30%), seguido pela Caatinga, com mais de 116 mil hectares (7%). Mesmo com menos de 29% de sua cobertura florestal, na Mata Atlântica foram desmatados 30.155 há, o equivalente a 1,8% da área dos alertas. Apesar de responder pela menor área de alertas (0,1% do total), o Pampa quase dobrou o montante desmatado (92,1%). No Pantanal se observou um aumento de 50,5% nos alertas detectados e 15,7% na área desmatada entre 2020 e 2021.


Os maiores aumentos, em relação à área desmatada em 2020, ocorreram na Amazônia (126.680 ha) e no Cerrado (83.981 ha), enquanto que em termos proporcionais, ocorreram na Caatinga (88,9%) e no Pampa (92,1%). No caso da Caatinga, o aumento está relacionado ao aprimoramento da nova fonte de dados usada pelo MapBiomas, o SAD Caatinga, especializado na detecção de desmatamento em matas secas no bioma.


Fonte: Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) / Ciclo Vivo - Reprodução.



Para acessar o relatório completo, clique AQUI.



Fonte: 

- Ciclo Vivo.




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