Adobe: o material reciclável mais sustentável



Adobe: o material reciclável mais sustentável
Parte da imagem do livro Herbert Baresch, O homem e o arquiteto. (Imagem © Ignacio Gomez Pulido)


Pensando em mundo mais sustentável, no momento de construir são tomadas decisões a fim de gerar o menor impacto possível, e os materiais recicláveis ​​contribuem muito para isso. Ao construir uma parede com materiais reaproveitáveis, pode-se pensar, por exemplo, em garrafas plásticas, e assim evitar seu descarte. Porém, existe uma técnica milenar utilizada em todo o mundo que é possivelmente o material mais sustentável: o adobe.


Aplicação em interiores com diversos formatos. (Imagem © Santiago Baraya)



Quando pensamos em sustentabilidade na construção, a imagem do uso que o projeto terá no futuro é inevitável. Como todo ato tem suas consequências, quando se utiliza materiais de construção que duram milhares de anos, esse uso é igualmente prolongado. Porém, o adobe pode ser um dos materiais que, para sua produção, pode gerar o menor impacto possível, e o melhor de tudo é que seu entulho pode ser devolvido à terra


Neste artigo exemplificaremos o processo de construção em adobe do projeto habitacional El Encuentro de Araukaria Arquitectura, nos arredores de Bogotá, onde o principal uso desta materialidade foi decidido pelas suas propriedades térmicas e estéticas que podem ser mimetizadas com a natureza, já que, em essência ela é a própria terra. Com o tempo, o adobe do projeto sofreu os efeitos de estar localizado em uma região chuvosa e úmida, mas ainda conseguiu se manter vivo graças à propriedade reutilizável do material.


Duas técnicas são utilizadas para a construção em terrenos da região: a parede de taipa e os blocos de adobe. As paredes de adobe, ao contrário da parede de taipa, podem ser manuseadas em uma largura bem menor, com 25 cm, o suficiente para reter o calor e liberá-lo para o interior da construção à noite, ao contrário da taipa que pode atingir espessuras de até 60cm e gera espaços mais frios. O adobe também tem a vantagem sobre o tijolo queimado porque seus moldes são fabricados no local, permitindo infinitas variedades morfológicas que contribuem para o caráter icônico da obra e a possibilidade de correções construtivas mais econômicas em maquetes 1: 1 com areia como cola para poder ser desmontado manualmente.


Bois pisando na mistura. Parte da imagem da Arquitetura Mística. (Imagem © Hernando Baraya)



Para a formação dos blocos de adobe, o solo deve ser criteriosamente selecionado. Muito arenoso faz com que se partam facilmente, e muito úmido não permite uma moldagem correta. A terra deve ser argilosa para garantir a plasticidade que permite a correta maleabilidade e, por esse critério, o mestre construtor especialista em adobe artesanal é o juiz que determina o quão assertiva ela é. Isso faz com que o fator do terreno onde se localiza a obra seja decisivo para gerar o menor impacto possível. Se o levantamento do solo determinar que o terreno não é adequado para a fabricação no local, realocações terão de ser feitas, o que aumenta os custos e, claro, a emissão de carbono. No cerrado de Bogotá e arredores, a qualidade do solo é ótima para esta técnica de construção, já que, após 50cm de escavação o barro começa a aparecer. Portanto, para o El Encuentro a terra foi extraída do próprio lote.


No processo de manufatura artesanal os bois pisam a terra e água é adicionada periodicamente. Para evitar o excesso de lama, areia é adicionada à mistura para melhorar sua maleabilidade. Posteriormente, é adicionado esterco de cavalo (o animal deve viver em piquetes e não em manjedouras, pois nesta última traz serragem). O esterco de cavalo gera uma certa permeabilidade à mistura graças ao fato de conter urina, de acordo com Clarita Sanchez, do departamento de estudo de solos da Universidade Nacional da Colômbia. Posteriormente, o farelo de trigo é adicionado à mistura, que funciona como a fibra que estrutura cada bloco. Em outras partes do mundo, onde não existe acesso a este componente, é utilizada a palha do Pinus Patula que funciona de igual maneira.


Após moldados os blocos nas medidas desejadas, eles são deixados na etapa de pré-secagem no mesmo solo onde foram feitos. Esta etapa pode durar de 1 a 2 meses, dependendo das chuvas durante o processo. Embora seja conveniente cobri-los para que sequem mais rápido, o contato direto com as gotas de chuva lhes confere uma textura característica.


As técnicas de junção entre os blocos no momento em que as paredes são erguidas podem variar de acordo com os critérios de construção desejados. A técnica original da região usa terra diretamente, porém, para projetos como este, optou-se por usar uma mistura de cimento e adobe que contribui para a longevidade do elemento.


Os locais dizem que para construir com adobe é preciso ter "boas botas e um bom chapéu". Esse ditado significa que a base da parede deve ser isolada o suficiente para que o respingo da chuva não comprometa a composição do adobe, e um bom beiral para desviar o contato após a chuva.


Reforço de Adobe para canalizar a queda d'água após danos ao material. (Imagem © Santiago Baraya)


Por melhor que seja a bota e o chapéu da parede, se um tubo interno de água explodir, o adobe funcionará como uma esponja, absorvendo o vazamento até ficar saturado. Se isso não for controlado imediatamente, fará com que o material se desintegre. Foi o caso de uma das paredes do projeto. Porém, a parede foi levantada novamente como se nada tivesse acontecido graças ao fato de um estoque considerável de blocos ter sido mantido com as medidas predispostas pelo arquiteto. O que aconteceu com os escombros da referida parede? Eles foram enterrados novamente no jardim da casa. 


A erva cresce com maior fervor nessa região porque, quando se desintegra, o adobe funciona como fertilizante. Dessa forma, os blocos que foram afetados pelo vazamento de água voltaram exatamente para o mesmo local de onde foram extraídos, cumprindo o ciclo, deixando um impacto nulo.



Fonte:

- ArchDaily Brasil


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