A mina de ouro branco da Polônia: a história de um dos maiores projetos de reuso adaptativo do mundo



A mina de ouro branco da Polônia: a história de um dos maiores projetos de reuso adaptativo do mundo

(Foto: Cortesia de Wieliczka Salt Mine - ArchDaily Brasil/Reprodução)


A Polônia é um país geograficamente muito diverso, com distintas paisagens e territórios além de uma vasta história e cultura milenar. Suas mais importantes cidades são como um inventário de distintas arquiteturas, do românico ao gótico, passando pelo barroco ao pós-moderno. 


Além de suas históricas e exuberantes capitais e topografia única, a Polônia conta hoje com dezessete sítios históricos de interesse mundial reconhecidos pela UNESCO. De cidades medievais a reservas naturais, passando por pequenas igrejas de madeira até o impressionante Castelo de Malbork, esta seleta lista de lugares e edifícios históricos e naturais esconde um verdadeiro tesouro desconhecido. 


Escondida em um pequeno vale ao sul de Cracóvia, encontra-se uma das maiores e mais antigas minas subterrâneas cavadas à mão—a qual foi transformada ao longo dos séculos em um amplo complexo multiuso com tudo aquilo que você é capaz de imaginar (e do que não é capaz também). 


De um centro de tratamento de saúde, beleza e bem-estar a uma pequena e reclusa igreja enterrada dezenas de metros abaixo do nível do solo, a famosa Mina de Sal de Wieliczka conta ainda com a primeira plataforma subterrânea de bungee jumping do mundo.


Conhecida como “um dos sete milagres da Polônia”, a Mina de Sal de Wieliczka remonta ao período Neolítico. Acontece que, há centenas de anos na região da atual cidade de Wieliczka, foram descobertas antigas salinas pré-históricas de quase 5,5 mil anos, as quais passaram a ser exploradas pelos seus moradores para a produção de sal. 


Centenas de anos depois, as fontes salinas superficiais se esgotaram, obrigando os habitantes a construir poços e minas em busca de novas fontes de sal. Não muito tempo depois, os moradores se depararam com um enorme bloco de rocha sedimentar salina, o qual os incentivou a continuar cavando para explorar o novo tesouro que daria fama mundial ao pequeno vilarejo de Wieliczka.


(Foto: Cortesia de Wieliczka Salt Mine - ArchDaily Brasil/Reprodução)




O sal se tornou um bem precioso e de valor inestimável para os habitantes de toda a região do vale ao sul de Cracóvia, e a pitoresca estrutura geológica que eles construíram com suas próprias mãos é algo que você não irá encontrar em nenhum outro lugar do planeta. 


Já na segunda metade do século XIII, Wieliczka era conhecida como a maior produtora de sal de todo o antigo reino da Polônia, motivo pelo qual a cidade foi então batizada de Magnum Sal (o Grande Sal). Tanto é verdade que, somente os lucros da venda do sal representavam na época um terço de toda a receita da coroa polonesa.


Muito suor e criatividade foram gastas nessas minas. No final do século XV, o sal estava sendo extraído 64 metros abaixo do nível do solo, o qual corresponde ao atual primeiro nível das minas de Wieliczka. Ano após ano, a mina continuava crescendo verticalmente em direção ao centro da Terra, tornando-se uma das maiores estruturas de atividade mineradora de toda a Europa. 


Naquela época, a mina de Wieliczka contava já com um restaurante subterrâneo, abrigos para os funcionários e instalações de apoio e serviços. Por volta do século XVII, a mina já contava com três níveis subterrâneos, os quais foram delineados de acordo com o planejamento urbano da cidade acima dela. Já no século XIX, novos métodos de mineração foram sendo inseridos, assim como equipamentos mais modernos que chegaram junto com os primeiros turistas a visitar a mina.


(Foto: Cortesia de Wieliczka Salt Mine - ArchDaily Brasil/Reprodução)



Ainda assim, foi somente após o fim da Segunda Guerra Mundial que a produção de sal na mina de Wieliczka alcançou seu pico máximo, e pessoas do mundo todo tomaram conhecimento da importância histórica e do significado cultural do local. 


Neste contexto, manter a mina em funcionamento tornou-se um verdadeiro desafio, e embora ela proporcionasse ainda muito lucro à administração pública local, o principal foco do governo passou a ser a preservação do conjunto para as futuras gerações, uma ideia que na metade do século XX não parecia fazer muito sentido. 


Em 1964, a mina de Wieliczka, que naquele momento contava com nove níveis subterrâneos e alcançava uma profundidade total de 327 metros, finalmente deixou de ser escavada para utilizar apenas processos de evaporação para a produção de sal. 


Catorze anos depois, em 1978, a UNESCO inseriu as minas de Wieliczka em sua Lista de Patrimônio Mundial, e em 1996, os trabalhos de mineração no local foram suspensos por tempo indeterminado—e as minas de Wieliczka passaram a operar apenas como um complexo turístico.


(Foto: Cortesia de Wieliczka Salt Mine - ArchDaily Brasil/Reprodução)



Desde então, todas as estruturas escavadas abaixo da pequena vila de Wieliczka estão sendo restauradas e transformadas para acolher novos usos e programas que variam de rotas turísticas a espaços de apresentações e espetáculos, passando por centros de cuidado com a saúde física e mental até centros de oração e peregrinação e espaços para eventos. 


Atualmente, os mineradores seguem trabalhando a centenas de metros abaixo do nível do solo em Wieliczka, mas ao invés de escavar a terra em busca de sal, eles se concentram em preservar e manter este importante monumento histórico nacional. Ao longo de mais de 700 anos, 26 poços foram escavados em Wieliczka. Na verdade, os responsáveis dizem que atualmente apenas 2% da área total das antigas minas são acessíveis ao público.


Uma das principais atrações no local hoje é um centro de tratamento de saúde. Pacientes com doenças respiratórias crônicas como asma, bronquite e pneumonia encontram aqui uma atmosfera única e um microclima subterrâneo perfeito. 


Acontece que o ar dentro da mina circula por uma série de corredores impregnados de sais altamente solúveis, os quais desempenham um papel anti-séptico, purificando as correntes de ar que passam pelo interior da mina. Recentemente, pacientes de COVID-19 com sérios problemas respiratórios visitam a mina de sal de Wieliczka para fortalecer seus pulmões.


O atual complexo das minas de Wieliczka está organizado de forma a construir um percurso narrativo que conta a história do local e dos importantes personagens que por aqui passaram, explicando como a mina foi sendo escavada ao longo dos séculos de atividade mineradora. 


Algumas das câmaras e corredores foram transformados em luxuosos espaços de encontro iluminados por imponentes lustres de vidro, enquanto outros abrigam capelas e até restaurantes. Uma das câmaras mais profundas, com 36 metros de altura, foi transformada no primeiro bungee jump subterrâneo do mundo. 


Ao visitar o local, os visitantes podem escolher entre duas rotas distintas: a turística, onde encontram-se os espaços descritos acima, e a rota dos mineiros, um percurso desafiador e multissensorial que convida os visitantes a perambular por uma intrincada rede de túneis subterrâneos.


(Foto: Cortesia de Wieliczka Salt Mine - ArchDaily Brasil/Reprodução)



A maioria das paredes e tetos das câmaras da antiga mina de sal foram deixadas em seu estado natural, mesmo aquelas utilizadas como restaurantes, espaços de eventos e salas de oração. Em alguns lugares especiais, como no interior da Capela de Santa Kinga, os visitantes podem ver antigas esculturas de sal e trabalhos em alto-relevo deixados pelos mineradores há séculos.



Fonte:

- ArchDaily Brasil. 





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