A Indústria brasileira de Máquinas Têxteis: Internacionalização e Competitividade



A Indústria brasileira de Máquinas Têxteis: Internacionalização e Competitividade

 (Imagem: Schaeffler Iberia/Reprodução)


  Autoria: Fellipe Augusto Penido Araújo de Faria - [email protected]


Resumo

O artigo examina a internacionalização, competitividade, mudanças tecnológicas e atuação da indústria brasileira de máquinas têxteis, nas últimas décadas, de acordo com o fluxo de comércio exterior brasileiro e valor médio dos bens transacionados; e maior grau de internacionalização e especialização nos dias atuais. No primeiro momento, avaliou-se de forma teórica as fontes do conhecimento e formas de capacitação tecnológica. Em segundo momento, identificou-se as características mais relevantes da indústria de máquinas têxteis em âmbito mundial. Por último, apresentaram-se as particularidades da indústria têxtil a nível mundial e do setor de máquinas têxteis nacional. 

Palavras-chave: Máquinas Têxteis; Internacionalização e Competitividade; Industrialização; Política Comercial; Política Cambial.


 Introdução


A importância da inovação e tecnologia para a indústria e o setor de máquinas têxteis por Pavitt (1984): Fornecedores de equipamentos e insumos respondem por 84% das inovações usadas no setor têxtil. É importante destacar que essa demanda provém dos usuários que buscam constantemente por inovações com o intuito de melhorarem sua competitividade. 

Para Pavitt (1984), fontes de tecnologia, demanda dos usuários, oferta dos fornecedores e possibilidades de apropriação de conhecimento advindas das inovações são distintas conforme padrões setoriais.

         Ainda de acordo com Pavitt (1984), empresas de bens de capital possuem escalas de produção diferenciadas e reduzidas em comparação a outros setores:

  • Fontes de tecnologia: as firmas de bens de capital não adquirem os mesmos conhecimentos tecnológicos; pois dependem mais dos seus clientes para obter informação e habilidades relacionadas ao desempenho operacional.

  • Necessidades dos usuários: o modelo do ciclo do produto não é crucial, pois muitas empresas operam em mercados não tão exigentes. 

  • Condições de apropriabilidade: inúmeras barreiras dificultam o retorno do investimento gerado pelos benefícios da inovação.


O conhecimento tecnológico aplicável às empresas da indústria têxtil brasileiras (fiação, tecelagem e confecção) se apresenta ainda tímido, contudo, as empresas têm buscado, cada vez mais, adquirirem novos conhecimentos tecnológicos a fim de aprimorarem sua produção, através do relacionamento com fornecedores internacionais especializados que ofertem insumos de alta qualidade e equipamentos de ponta, visando melhorarem sua competitividade nos mercados nacional e internacional e maximizarem seus lucros. 


Sigiura (1994) ao analisar a indústria de máquinas têxteis no Japão observou que: os usuários são de extrema importância no fornecimento de informações relevantes no tocante a problemas relacionados ao uso continuado, refletindo-se em inovações incrementais. Observou-se que os usuários são extremamente importantes para a melhoria do desempenho desses equipamentos, tomando por base os conhecimentos tácitos operacionais destes. 


Segundo Hiratuka (1996), no setor têxtil a maioria dos fabricantes de máquinas não desenvolve tecnologia internamente, ou porque são filiais de companhias estrangeiras ou porque são firmas nacionais que adquirem tecnologia através de contratos com fornecedores internacionais.


A colaboração tecnológica entre usuários e fornecedores do setor têxtil é essencial e se dá através da troca de informações relevantes,  adequando-se o maquinário às particularidades e necessidades dos usuários; desta forma,  aperfeiçoando o desempenho dos equipamentos e aumentando a produtividade em termos de inovações, uma vez que não há geração interna de tecnologia de maneira consistente e permanente.


No Brasil, a relação usuário-produtor e os resultados em termos de produtos inovadores enfrentam inúmeras barreiras de cunho tarifárias e não tarifárias dificultando o processo de inovação e o aumento da competitividade. 


A evolução dos segmentos do setor de máquinas para a indústria têxtil brasileira nas últimas décadas foi examinada por este artigo, a partir das transformações ocorridas na estrutura produtiva e de comércio. Além disso, apresenta ainda detalhamento do desenvolvimento e do desempenho recente do setor de máquinas têxteis. 


Conforme exposto, a indústria de bens de capital , indústria têxtil e sua competitividade se relacionam diretamente com as inovações e mudanças tecnológicas.


Concluiu-se que existe crescente demanda do setor têxtil brasileiro por maior conteúdo tecnológico, que se encontra concentrado principalmente nos países europeus e também asiáticos.



Capacitação tecnológica e competitividade do setor de máquinas têxteis no Brasil: análise comparativa baseada no conteúdo tecnológico do comércio exterior brasileiro.


Foram considerados códigos referentes a máquinas, equipamentos, partes e acessórios têxteis – códigos 8444 a 8448, 8451e 8452 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) e por meio de uma breve análise do comércio exterior brasileiro,  foi identificado o atual nível tecnológico do segmento de  máquinas da indústria têxtil brasileira, nas últimas décadas.


O do valor médio dos bens transacionados com o exterior foi o indicador utilizado. O valor médio se traduz pelo quociente entre o valor (em US$ FOB) e o peso (em  kg) dos vários itens do fluxo de comércio  e pode ser considerado como um indicador da tecnologia incorporada nos produtos exportados e importados.  Através do valor médio depreende-se que os produtos de maior valor agregado são aqueles que mais incorporam conteúdo tecnológico. (GOMES; RODRIGUES; CARVALHO, 2005).


Esse indicador pode ser interpretado como medida de “competitividade tecnológica” ou do “nível de desenvolvimento tecnológico do setor”: Ou seja,  quanto maior do que a unidade, mais competitivo é o setor/indústria/ramo/segmento analisado.


O déficit estrutural da balança comercial, agravado pela apreciação do Real e reestruturação industrial na primeira fase do Plano (1994-1998), é outro ponto marcante do comércio exterior brasileiro neste segmento. Durante este período, os blocos econômicos mais importantes para as exportações brasileiras foram a União Européia (UE) e o Nafta, com vendas externas em torno de 48% e 17%, respectivamente. Em relação às importações, a UE foi o principal fornecedor de equipamentos para o país (60%), seguida pelo Nafta (6%).


Matrizes da grande maioria das empresas multinacionais do setor de máquinas têxteis instaladas no Brasil se encontram sediadas na Europa.


O impulso dado pela apreciação do Real pela abertura agressiva da economia e pela queda drástica de alíquotas, somadas à maior tributação incidente sobre a produção nacional do que sobre a importada, proporcionou baixa proteção dos produtos nacionais e refletiu em aumento das importações (PINHEIRO;COSTA,2007). 


De forma complementar, houve aumento da demanda da indústria têxtil do país, causado pelo breve ciclo expansivo pós-Plano Real (LAPLANE; SARTI, 1997, 1999), que anteriormente era atendida parcialmente pela indústria nacional de máquinas têxteis. Tais fatores favoreceram as aquisições externas de bens de capital. Contudo,  as importações voltaram a diminuir ao final do curto ciclo expansivo, em 1998, somando-se à depreciação do câmbio, em janeiro de 1999.

          

As importações revelam forte dependência por produtos estrangeiros mais sofisticados e de tecnologia estrangeira para a produção doméstica (diferença significativa entre valor médio exportado e importado), embora o Brasil tenha um leque de empresas bem desenvolvidas.



Considerações finais


A indústria e as empresas nacionais de máquinas têxteis brasileiras tiveram seu desenvolvimento diretamente voltado para a capacitação tecnológica e ligado a empresas européias, no final do século XIX e início do XX, devido não só a uma corrente imigratória, mas também ao fim de um forte período protecionista que modificou radicalmente a estrutura industrial do país.


Face à abertura comercial brasileira indiscriminada, houve diminuição da gama de produtos fabricados no país, assim como dos negócios por empresas que anteriormente produziam máquinas e equipamentos de diferentes etapas do processo produtivo têxtil , no Brasil.


Em âmbito global, existem fortes evidências de que o setor de máquinas têxteis esteja se concentrando em países que dispõem de elevado potencial de desenvolvimento de novas tecnologias e que precisam atingir elevada escala de vendas para compensar os altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Esse processo se iniciou em 1960 (ROTHWELL, 1982; PIERONI, 2005), e foi otimizado pelos avanços  na microeletrônica a partir dos anos 1980. 


O Brasil, atualmente, exporta em sua  maior parte equipamentos para a indústria têxtil, de menor valor agregado, principalmente peças e acessórios de máquinas e importa produtos de maior valor agregado . Ou seja,  quanto mais elevado o grau de conteúdo tecnológico, maior a participação estrangeira.


Dessa forma, no que concerne ao setor de máquinas têxteis, a inter-relação brasileira com o exterior, se apresenta robusta e vinculada, principalmente, aos países Europeus e, ainda, aos Asiáticos, divergindo de forma negativa quanto aos avanços de autonomia produtiva e tecnológica logrados em outros setores industriais.



Referências

GOMES, R .; RODRIGUES, H .; CARVALHO, EG Balanço de pagamentos tecnológico: o perfil do comércio externo de produtos e serviços com conteúdo tecnológico. In: LANDI, FR (Coord. Geral). Indicadores de Ciência e Tecnologia e Inovação  2004 / Fapesp . São Paulo: Fapesp, 2005. cap 7.

HIRATUKA, C. Um estudo sobre a capacitação tecnológica da indústria de máquinas têxteis e suas relações com a indústria têxtil. Monografia (Conclusão do curso de Ciências Econômicas)– Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Araraquara, dez. 1992.

LAPLANE, M. F.; SARTI, F. Investimento direto estrangeiro e a retomada do crescimento sustentado nos anos 90. Economia e Sociedade, Campinas, n. 8, 1997.

PAVITT, K. Sectoral patterns of technical change: towards a taxonomy and a theory. Research Policy, v. 13, n. 6, p. 343-373, 1984.

PINHEIRO; A. S.; COSTA, D. M. D. Impactos da mudança do regime de tributação do PIS e COFINS para as empresas de capital aberto: ênfase no setor têxtil brasileiro. RIC – Revista de informação contábil , V.1, n.2 , p.134-149 , 2007.

SIGIURA, K. The technological role of machinery users in economic development: the case of textile machinery industry in Japan and Korea. Thesis (Phd)–University of Sussex, 1994.

ROTHWELL, R. Innovation in textile machinery. In: PAVITT, K. Technical innovation and British performance.  London: SPRU, MacMillan, 1982.



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